(CNN) Com suas oito pernas enroladas em torno de si mesmo como se fosse um abraço e suas pupilas estreitas em uma fenda, o polvo respira regularmente, seu corpo é de um cinza esbranquiçado uniforme.
Momentos depois, ele começa a mudar de cor – uma mudança hipnotizante entre o laranja queimado e o vermelho ferrugem. Seus olhos, músculos e ventosas se contraem como se estivesse tendo um sonho particularmente vívido.
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Cientistas brasileiros dizem que as mudanças na cor, no comportamento e no movimento são evidências de um ciclo de sono – com o polvo alternando entre o sono ativo e o tranquilo, assim como os humanos alternam entre o sono profundo e o REM (do inglês: Rapid Eye Movement) – batizado em homenagem aos movimentos rápidos dos olhos que experimentamos quando estamos neste estado.
As descobertas, publicadas na quinta-feira na revista iScience, mostram como o sono pode ter evoluído de maneira semelhante, mesmo em criaturas muito diferentes e sugere que os polvos podem experimentar algo semelhante a um sonho.
“Não é possível afirmar que os polvos sonham porque eles não podem nos dizer isso, mas nossos resultados sugerem que durante o ‘Sono ativo’ o polvo experimenta um estado análogo ao sono REM, que é o estado no qual os humanos mais sonham”, disseram em um e-mail os autores do estudo Sidarta Ribeiro e Sylvia Medeiros.
Ribeiro é professor de neurociência do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, e Medeiros é aluna de doutorado da mesma universidade.
Os cientistas costumavam pensar que apenas mamíferos e pássaros experimentavam diferentes estados de sono – pense em um gato adormecido se contorcendo como se estivesse perseguindo um pássaro no quintal. Pesquisas mais recentes, no entanto, revelaram que alguns répteis e chocos – outro cefalópode e parente do polvo – apresentam sono não REM e semelhante ao REM.
Os polvos têm uma estrutura cerebral muito diferente dos humanos, mas compartilham algumas das mesmas funções dos cérebros dos mamíferos. As criaturas têm habilidades especiais de aprendizado – incluindo a capacidade de resolver problemas e outras habilidades cognitivas sofisticadas, disseram os autores.
Eles disseram que investigar o sono dos polvos era um “ponto de vista” para compará-los neurobiologicamente e psicologicamente com os mamíferos – com as semelhanças do sono provavelmente uma consequência “das cargas mentais muito desgastantes experimentadas por esses grupos separados de animais”.
O polvo há muito é uma fonte de fascinação humana. Imagens de um vídeo de 2019 de um polvo chamado Heidi mudando de cor enquanto dormia em um tanque, fez os cientistas se perguntarem se as criaturas poderiam realmente sonhar. O documentário da Netflix “My Octopus Teacher” (Professor Polvo) também mostrou as habilidades únicas das criaturas.
Sonhar em GIFs, não em filmes
Como os pesquisadores tinham certeza de que os polvos que estudaram estavam dormindo e não apenas descansando? Os pesquisadores filmaram quatro membros da espécie Octopus insularis em seu laboratório e estudaram o comportamento dos animais por um período de mais de 50 dias. Os polvos eram muito sensíveis a estímulos muito fracos quando estavam alertas, mas em ambos os estados de sono eles precisavam de um forte estímulo visual ou tátil para evocar uma resposta comportamental, disseram os cientistas.
Os polvos geralmente mudam a cor da pele para se camuflar ou se comunicar, mas durante o sono, os fatores ambientais não desencadeiam mais esses padrões. Os pesquisadores inferiram que as mudanças de cor durante o sono, resultam da atividade cerebral independente.
O estudo descobriu que o polvo experimenta um sono ativo após um longo episódio de sono tranquilo. No caso de um polvo, o longo período geralmente é superior a seis minutos.
“Se os polvos realmente sonham, é improvável que vivenciem tramas simbólicas complexas como nós. O ‘sono ativo’ no polvo tem uma duração muito curta (normalmente de alguns segundos a um minuto)”, disseram os autores por e-mail. “Se durante esse estado há algum sonho acontecendo, deve ser mais como pequenos videoclipes, ou mesmo gifs.”
Fonte: CNN / Katie Hunt
Tradução: Redação Ambientebrasil / Maria Beatriz Ayello Leite
Para ler a reportagem original em inglês acesse: https://edition.cnn.com/2021/03/25/world/octopus-sleep-dream-study-scn/index.html